Cláudio Nogueira e Gabriel Torres
16/08/2025 09:19 - Atualizado em 16/08/2025 09:19
Presidente Acic, Maurício Cabral
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Divulgação
“Não colocar o semiárido aqui é não ouvir 1 milhão e 200 mil pessoas”. Foi o que disse o empresário e presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), Maurício Cabral, entrevistado dessa sexta-feira (15) no programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. Ele comentou o veto do presidente Lula ao projeto de lei 1.440/2009, que alterava a classificação climática das regiões Norte e Noroeste Fluminense para semiárido. Além de falar da posição da Acic contra o veto presidencial, ele também comentou as tarifas impostas ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Veto ao PL do semiárido — “Soou muito ruim quando veio o veto porque o estudo é técnico, foi muito bem elaborado esse projeto do semiárido. É só você pegar o seguinte, o que é um ambiente árido? É o que chega ao deserto, ponto. Semiárido, então, nós estamos perto a uma situação desértica. Então, quando você tem, na média dos últimos anos, um volume de chuva que você fica até seis meses, em média, sem chover durante todo o ano, requer uma certa atenção. Aliás, requer uma atenção muito especial”.
Posição da Acic — “O posicionamento da Acic primeiro era total apoio ao projeto do semiárido e agora total apoio. Declarei isso ontem publicamente lá na CDL. Não só o senador Portinho, que é um colega associativista, um grande parceiro nosso, está sempre na Associação Comercial do Rio, muito atuante. Mas nós agora vamos emitir uma nota de repúdio contra esse veto.”
Impactos do veto — “Não afeta só o agronegócio. O agronegócio perpassa pela indústria, pelos serviços, pelo turismo. Porque você tem o turismo rural, tem a importância do agronegócio na nossa alimentação diária. Então você quer fazer uma regulamentação fundiária e você está sendo contra. Então eu acho que não foi oportuno”.
Justificativa da presidência — “Não foi uma decisão técnica, foi uma decisão política, que me entristeceu mais ainda. E foi não só vetar do projeto semiárido. Primeiro, a gente estava preocupado em vetar o fundo. O semiárido, o projeto semiárido proposto pelo hoje prefeito Wladimir Garotinho, na época deputado federal, ele não só criava o projeto semiárido, mas também um fundo garantidor de reserva financeira. Foi vetado as duas coisas. Então, isso tem que voltar para a pauta, tem o apoio institucional’.
“Importante que o governo escute” — “A presença do Lindbergh Farias e do André Ceciliano é importante para que a gente possa mostrar para eles que nós temos 1 milhão e 200 mil votos aqui. Então, não ouvir o Norte Fluminense e não colocar o semiárido aqui é não ouvir 1 milhão e 200 mil pessoas. Eu, sinceramente, se eu estou pleiteando futuramente uma vinda política ou qualquer cargo, escutaria o Norte Noroeste Fluminense e aprovaria o semiárido para ontem. É importante que o governo federal escute, porque aqui são, no mínimo, 1 milhão e 200 mil votos. E ele está indo contra 1 milhão e 200 mil votos. Eu acho que é importante ele rever, eu reveria isso. Eu teria porque, primeiro, que o estudo é técnico, está totalmente embasado e tem 1 milhão e 200 mil votos que ele está ignorando”.
Tarifas dos Estados Unidos — “Tem o tarifaço do Brasil contra o brasileiro. Nós temos, primeiro o tarifaço não vem dessa gestão não, isso vem de longa data. E isso perpassa por vários cenários econômicos e por vários presidentes. Primeiro o tarifaço do Brasil contra o brasileiro”.
Decisão de Donald Trump — “O Trump está defendendo o país dele, está fazendo dever de casa. E ele implicou uma tarifa, não foi só para o Brasil, foi para o mundo inteiro. O Xi Jinping, que é um país socialista, quando foi imputado a tarifa, pegou o avião e foi lá negociar com o Trump. E a Europa, os países da Europa foram lá negociar. É só a gente ir lá negociar”.
Impostos no Brasil — “Nós temos a carga tributária mais alta, nós tínhamos uma das maiores cargas tributárias do planeta, uma das maiores. Com a nova reforma tributária, que foi feita agora pelo governo atual, que instituiu o IBS e o CBS, Contribuição sobre Bens e Serviços. E aí o Imposto sobre Bens e Serviços, nós saímos de 21, 22 para 28% em média. Mas nós temos, por exemplo, o imposto do carro é mais de 50%. Então nós temos o tarifário interno, que acontece há muito tempo no Brasil”.
Política interna — “Eu acho que a gente tem que cuidar também da nossa política interna. A nossa reforma tributária foi aprovada, mas infelizmente agora é a maior do mundo e traz uma carga tributária. A gente agora com o tarifado do Trump, temos duas cargas tributárias, a interna e a externa, que prejudica ainda mais o desenvolvimento econômico do país”.
Valorização de commodities — “Eu não gostaria que o nosso ferro fosse para o Japão ou para a China e voltasse em aço para cá. Eu gostaria que o aço fosse feito aqui. Então, eu não tenho viés nenhum. Eu sou uma pessoa que tem um espírito associativista. Por exemplo, você tem um presidente que valoriza as nossas commodities. Em vez de mandar café para a Suíça e comprar a cápsula do café, por que a gente não faz a cápsula do café aqui?”
Desenvolvimento da região — “Nós temos aqui o Porto do Açu, temos investimentos na Bacia de Campos há 50 anos. Mas a gente está discutindo siga e pare da Estrada do Ceramista. Isso é um crime o que a gente está fazendo, porque a gente tem investimento na Bacia de Campos há 50 anos. Aqui tinha que ter ferrovia, tinha que ter estradas triplicadas e não duplicadas, tinha que ter aeroporto funcionando. Nós não vamos aguentar, é muita tarifa. Não é para a empresa, não. Somos para todos nós que compramos o produto. Aquele trabalhador que dedica 30 dias do seu trabalho para comprar um produto, ele está sendo bitributado. Ele tem uma carga tributária do arroz, do feijão. Às vezes para ele ter o celular dele, ele está pagando um imposto muito alto”.
Informalidade — “Se a gente continuar nessa política, nós vamos ter menos desenvolvimento econômico e social. Existe a curva de Laffer. Quanto mais você aumenta os impostos, mais você aumenta a informalidade. E você só tem um Estado forte, quando você tem uma equidade, quando o imposto é viável e todo mundo paga, sai da informalidade”.
Tarifa brasileira e americana — “O tarifaço brasileiro ele perpetua muito mais de 40 anos. Ele não está há dois meses. Então, numa visão de longo prazo, nós perdemos trilhões de reais. Você vai ver o impostômetro, dá uma lida lá, vê o que a gente já arrecadou de imposto. Dois trilhões. Isso é muito maior do que o tarifaço do Trump”.
Convergência — “Quando você fala de fortalecimento de uma nação, as pautas têm que ser convergentes. Principalmente quando você fala de pautas que desenvolvem o desenvolvimento econômico e social. A gente está falando de vidas. Então, por exemplo, quando você não tem um município que não fala com o Estado, é ruim ir para Campos”.
Prioridade política — “Sabe o que a gente deveria estar falando? O que a gente pode fazer para interligar a Codin ao Porto do Açu, perpassando pela BR-101, melhorando a estrada do contorno, fazendo a estrada do contorno, a duplicação da via, tratando da ferrovia, tratando do aeroporto. Isso coletivamente, município, Estado e União. Então, a gente tem a discussão política e a gente esquece do nosso dia a dia. Então, é muito ruim isso”.
Nomes a governador — “Qualquer pessoa da nossa região. Sabe por quê? Porque quando você tem uma pessoa aqui da região no governo do estado, Campos é muito forte politicamente. Quando você tem um representante da nossa região no estado, quando você tem um representante, por exemplo, nós tivemos o Nilo Peçanha na presidência do Brasil. Eu gostaria de ter uma pessoa do estado do Rio na presidência do nosso país”.
Política municipal — “Sou totalmente favorável a você também ter outras vias. Você viu que nas eleições anteriores foi muito interessante, porque nós permitimos outros atores que se colocaram à disposição do cargo público da Prefeitura. Mas também como governo do Estado, que trouxeram debates interessantes. Eu acho que isso é o processo democrático. Eu acho que você está polarizado é ruim, é importante escutar outras propostas, uma terceira via”.
Protagonismo — “Campos sempre foi muito forte politicamente no cenário estadual. Você vê que nós temos uma representatividade muito grande enquanto município e isso perpassa durante uma longa data no nosso município desde Nilo Peçanha. Então eu gostaria de ver isso de uma maneira muito positiva. Não gostaria de ver essa divisão de duas pessoas da minha cidade, da cidade onde que eu invisto, que eu moro, que eu trabalho. Eu não queria ver essa divergência”.
Diálogo entre lideranças — “Eu gostaria de ver essa convergência do nosso prefeito com o presidente da Alerj, com o governo do Estado. Porque nós representamos, a Bacia de Campos representa 70% da exploração de petróleo e gás do Brasil. É muito ruim você ter uma discussão numa cidade que representa 70% do petróleo e a gente está discutindo siga e pare.”