O Direito, por essência, é uma ciência humana. Ele nasce do convívio entre as pessoas, das tensões e harmonias que emergem da vida em sociedade. No entanto, é cada vez mais comum encontrar profissionais do Direito que se limitam à técnica, às fórmulas jurídicas e às decisões automatizadas dos tribunais. Falta-lhes algo fundamental: a compreensão profunda do ser humano e da sociedade.
Uma boa formação humanística não é um luxo — é uma necessidade vital para quem deseja exercer o Direito em sua plenitude. O advogado, o juiz, o promotor ou o mediador que não estudam História, Filosofia e Política correm o risco de se tornar meros operadores de normas, e não intérpretes da realidade.
A História ensina que o Direito é fruto de contextos sociais e políticos específicos. Cada lei carrega em si o espírito de uma época. A Filosofia nos mostra o fundamento ético e racional das normas, e a Literatura, por sua vez, revela as paixões, os dilemas e as contradições humanas que nenhum código é capaz de traduzir integralmente.
Compreender a Política é igualmente essencial. Afinal, o Direito é o instrumento pelo qual a sociedade organiza o poder, estabelece limites e busca a justiça. Ignorar a política é fechar os olhos para as forças que moldam o próprio Direito.
Os grandes juristas e pensadores sempre foram, antes de tudo, humanistas. Aristóteles, Cícero, Santo Tomás de Aquino, Montesquieu e Tocqueville compreenderam que a justiça não se constrói em abstrato — ela nasce do conhecimento da alma humana e da vida coletiva. Por isso, o profissional do Direito precisa beber nessas fontes clássicas, nas obras que moldaram a civilização e ensinaram o homem a pensar sobre si mesmo.
Um advogado que lê Dostoiévski entende a profundidade do conflito moral. Um jurista que estuda Platão e Aristóteles aprende a buscar a ordem e a virtude. Um profissional que conhece Maquiavel e Hannah Arendt compreende o poder, a ação e a responsabilidade.
Em tempos de especializações e respostas rápidas, defender uma formação humanística pode parecer antiquado. Mas é justamente o contrário: é o que mantém o Direito vivo e humano. A técnica muda, mas os fundamentos permanecem. E quem domina as humanidades enxerga além das letras frias da lei — vê o homem por trás do processo, a sociedade por trás da norma e a história por trás de cada decisão.
Sem o olhar humanístico, o Direito se torna apenas um mecanismo. Com ele, transforma-se em instrumento de justiça e civilização.
Evandro Barros Advogado e Professor de Humanidades Doutorando em Políticas Sociais – UENF