Eleições por mulheres de direita e esquerda
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Gabriel Torres e Hevertton Luna 22/11/2025 09:26 - Atualizado em 22/11/2025 09:26
A advogada Débora Pontes e a historiadora Guiomar Valdez
A advogada Débora Pontes e a historiadora Guiomar Valdez / Divulgação
A advogada e presidente estadual do Mulheres pelo Novo, Débora Pontes, e a historiadora e professora do Instituto Federal Fluminense (IFF), Guiomar Valdez, foram as entrevistadas desta sexta-feira (21) no programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. Elas analisaram os desafios à participação feminina na política e o cenário estadual para as disputas a deputado, governador e senador. Por fim, projetaram o pleito de 2026 a presidente e as perspectivas de Lula e da direita brasileira na área da segurança pública.
Papel de Campos em 2026
Débora Pontes – “Então, esse papel é fundamental. A gente tem a cidade de Campos como uma cidade que é vista como um foco eleitoral no estado do Rio de Janeiro. Dos nossos 92 municípios, a gente tem Campos como expoente. Eu gosto, inclusive, de falar que Campos deveria ser para o Rio de Janeiro como Campinas é para São Paulo. Mas, infelizmente, a gente não consegue ainda ter essa pungência, nem do ponto de vista econômico, nem do ponto de vista cultural, nem do ponto de vista social em termos de equivalência, mas deveríamos ter. Então, nessa ordem de grandeza e de importância, Campos surge como fundamental no cenário político e como chave para decisões políticas e definições das eleições ano a ano e não vai ser diferente para 2026.”

Guiomar Valdez – “São importantes e consolidadas lideranças (Garotinhos e Bacellar). Só com as convenções, mas elas já têm nomes, as articulações já estão sendo colocadas. Em Campos, dada a sua importância política histórica, também outros estão vindo para cá. No campo progressista, por exemplo, temos um Quaquá chegando aqui em Campos, também querendo criar pontes. Acho que vem Maicon (Cruz, pré-candidato a estadual). Não vejo força suficiente no PT local de uma candidatura mesmo apoiadas por Lindbergh e Ceciliano aqui em Campos. As forças dessas duas lideranças são muito grandes, mas o Quaquá, esse modus operandi dele, essa coisa pragmática do bem ou do mal. Ele quer a vitória do filho dele e se tiver que passar como já passou por diversas objeções das sessões do partido em diversos municípios, ele faz mesmo. Danilo e Jefferson, lideranças hoje do PT local, o Danilo, formalmente, tem que ter muito cuidado com o companheiro Quaquá.”

Decisão de Wladimir

Débora Pontes – “Entendo que o Wladimir nesse momento não deixa de ser prefeito de Campos e também acredito que ele vai apoiar a esposa nesse cenário, que é algo que a gente já viu em outros momentos políticos do Rio de Janeiro. As famílias e as posições familiares trocando de lugar. A gente viu isso com a família do Garotinho, por exemplo, que o Garotinho foi nosso governador, depois a gente teve a Rosinha Garotinho como governadora. Então esse também é um movimento no cenário político fluminense, que a gente já viu acontecer e não me surpreende de acontecer agora novamente.”

Guiomar Valdez – “Eu acho que vai a Tassiana (a federal). É improvável que o Wladimir venha a ser pré-candidato a deputado federal e também a vice do Paes. Isso em retrato de hoje. Acho que criar esse laço, reforçar o laço familiar com outros nomes como a esposa dele. Mas a esposa dele, eu penso que deve ir para federal e se articular com outros. Eu me lembro do Caio Vianna para apoiar a deputado estadual. Hoje eu acho que Wladimir continua prefeito e vai a colocar as forças na Tassiana.”

Participação feminina na política

Débora Pontes – “Essa participação acaba não sendo orgânica e na ampla maioria dos casos, ano a ano, a gente observa a participação de mulheres laranjas, que são convidadas aos partidos simplesmente para compor esses 30% necessários legalmente. E essas mulheres acabam não se engajando politicamente, não fazendo uma campanha consistente, não se colocando com um discurso político que atinge ao eleitor. Elas simplesmente se colocam como nome na urna e muitas vezes sequer votam nelas mesmas. Esse cenário acaba fragilizando a participação feminina na política ao invés de fortalecer. Eu acredito que a legislação, que o objetivo da legislação era fortalecer a participação da mulher na política. Contudo, na prática, o que a gente observa é um movimento contrário.”

Guiomar Valdez – “Então, há muito que se fazer para além das cotas, para nós mulheres ocuparmos onde a gente quiser, como se diz no chamado movimento. Entretanto, não dá para fazer isso sem a relação direta com o masculino, sinto muito, e sem formulações mais consistentes de mudança da sociedade. Porque o que a gente tem hoje é o predomínio de mulheres machistas, infelizmente, na nossa sociedade e em cargos públicos também, seja do Legislativo e seja do Executivo, na sua maioria. Eu sou muito pessimista na razão, otimista na vontade, como dizia o velho Gramsci, mas o quadro atual que nós temos ele é desanimador.”

Flávio Bolsonaro

Débora Pontes – “O Flávio Bolsonaro hoje é um grande Ás do PL e do Bolsonaro pai. O nome do Flávio Bolsonaro já foi cogitado para disputa governador, senador e inclusive vem sendo ventilado como uma possibilidade de vice-presidente da república em uma eventual dobradinha com Tarcísio. Isso já vem sendo ventilado nos bastidores. Então o nome dele hoje é um Ás do PL e do Bolsonaro pai. As pesquisas apontam que a “certeza”, se é que a gente pode falar assim, por isso usei entre aspas, a “certeza” é que ele entraria para uma das vagas do Senado aqui pelo nosso estado.”

Guiomar Valdez – “Nesse momento, enquanto fotografia e tendo as pesquisas para o Senado, ela não mexe no Flávio. Salvo algum acontecimento drástico, acho que o Flávio Bolsonaro está consolidado até agora como pré-candidato à reeleição ao Senado. E acredito que o Castro venha e nesse sentido não muda o espectro político e partidário. Ambos são do PL. Nesse sentido, uma vitória de extrema-direita, infelizmente. Direita é uma coisa para mim, extrema-direita é outra coisa.

Cláudio Castro

Débora Pontes – “O cenário segue como areia movediça e a cada semana a gente tem uma novidade. De fato que, após a operação o Castro atingiu uma popularidade que ele nunca tinha atingido até então. Ele dobrou de tamanho nas redes sociais, aumentou dez pontos percentuais nas pesquisas e existem algumas pesquisas que apontam, que ainda não tiveram resultado publicamente divulgado, mas que apontam essa inversão (na disputa pelo Senado) entre Claudio Castro e Flávio Bolsonaro.”

Guiomar Valdez – “A consideração que eu faria com o Castro, não sei se impactaria, ele tem uma rejeição grande. Essa questão da rejeição às vezes a gente esquece, mas será que esse sucesso com a operação que ele está surfando, aliás a política está muito de surf, de fluidez. A gente depende muito dos acontecimentos, é tanta coisa e o impacto é tão grande que reflete na política mesmo. Então hoje, segundo as pesquisas, há possibilidade inclusive de inverter. Teríamos, para mim, infelizmente, as duas cadeiras de extrema-direita com a vitória do Flávio e Castro, independente da ordem. E isso enfraquece, obviamente, a candidatura da Benedita.

Eduardo Paes

Débora Pontes – “O nome do Eduardo Paes está ganhando em qualquer cenário de pesquisa. Porque qualquer cenário, com qualquer nome que ele esteja disputando, ele está à frente entre 61% e 51% dos votos. Então, ele está muito à frente. Em tese, ele ganharia no primeiro turno uma eleição hoje para governo do Estado. Mas a gente também não pode esquecer que, com a mega-operação que foi capitaneada pelo Castro em parceria com o novo secretário da Polícia Civil, o Felipe Cury, o nome dele também começa a surgir nos bastidores como uma possibilidade para então vir como pré-candidato a governador do Estado.”

Guiomar Valdez - “Acho que o Paes está bastante consolidado porque tem pouca rejeição em relação aos outros pré-candidatos. Inclusive ao Bacellar, o Garotinho. Essas coisas podem mudar, mas a gente está pensando o quadro hoje. Eu vejo ele consolidado a partir de uma rejeição que é bem menor do que os concorrentes atuais. Ele está tentando um vice para se consolidar inclusive no interior, soube até do Welberth, de Macaé. Não sei se é a operação que aconteceu vai macular um pouco essa estabilidade no momento.”

Cenário estadual

Débora Pontes – “A priori o cenário que se apresenta hoje é uma cadeira de senador para o Flávio e uma cadeira de senador para o Cláudio Castro. E no governo do Estado, eu não acredito, embora as pesquisas mostrem uma vitória do Eduardo Paes no primeiro turno, acho que muita coisa ainda pode acontecer. E o Felipe Cury pode ser o azarão do Eduardo Paes de 2026, tal qual o Witzel foi o azarão do Eduardo Paes em 2018.”

Disputa a presidente

Débora Pontes – “O cenário é complexo, mas penso que o cerne da questão é segurança pública. Esse tema vem sendo colocado na mídia como foco de eleições não só aqui no Brasil, mas mundialmente. Hoje, as pesquisas apontam, a Quaest por exemplo, uma pesquisa bastante renomada e qualificada, que em torno de 74% da nossa população aqui no Rio de Janeiro aprovou a operação. Aponta ainda que mais de 50% da população nacional apoiou a operação. E aponta que em torno de 60% da população nacional tem como maior dor a questão da segurança pública. E a gente sabe que o processo eleitoral, o processo de formação de voto por parte do eleitor, ele passa muito pela principal dor que ele está sentindo naquele momento.”

Guiomar Valdez – “A questão das oscilações da popularidade do Lula, eu resumia que ele ganha muito apertadamente o processo eleitoral em 2022, mas a tentativa de golpe de Estado dá um gás em 2023 e 2024, mas não segura esse tempo. Vem o Trump, as tarifas, e isso resgata algo simbólico como a soberania, o nacionalismo enquanto discurso simbólico. A operação de 28 de outubro resgata novamente o tema da segurança pública e isso impacta diretamente no processo das pesquisas, no resultado das pesquisas.”

Gestão Pública

Débora Pontes – “A gente tem uma corrupção que corrói o nosso sistema e que dificulta sobremaneira a aplicação de recursos públicos onde eles deveriam ser aplicados. E aqui eu estou falando especificamente da segurança que é o nosso tema central. Então, eu penso que quem dominar o debate sobre segurança pública vai estar correndo anos-luz na frente para a eleição de 2026. E quem entender que a questão é sobre gestão e não é uma questão ideológica, ou seja, quem demonstrar uma maior capacidade de solução e de efetividade vai estar ainda mais à frente do debate político em 2026.”

Guiomar Valdez – “Discordo da Débora com relação à gestão porque não vejo a gestão pública especialmente, ou qualquer outro tipo de gestão, como algo neutron ou imparcial. Gestão tem sustentação, aliás tem vários tipos, estudos, cuja eficiência depende das relações políticas, relações de poder também e de formato conceitual de que tipo de gestão vai se ter. Então eu não consigo colocar a gestão como resolver o problema da gestão como algo em si. Não desvalorizo a gestão. Uma gestão eficiente para quê? Para quem? Em nome de quê? Agora, em si, como algo que vai resolver sozinha ou, na maior parte das vezes, determinado problema, como, por exemplo, segurança pública, a gente discorda nesse ponto.” 
 

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