Arthur Soffiati - A música de Nietzsche
Esta lacuna pode foi suprida com o disco compacto da Philips alemã n° 426 863-2, contendo 15 canções (“lieder”), acompanhadas por piano, um melodrama recitativo para voz e piano e duas peças para piano a quatro mãos. Os apreciadores do pensador já conheciam o livro “Nietzsche e a música”, de Rosa Maria Dias (Rio de Janeiro: Imago, 1994). Agora, podem conhecer a música de Nietzsche. Quem já abandonou a aparelhagem de som e o CD como tecnologia obsoleta, poderá ouvir as composições de Nietzsche pelo Youtube ou outra plataforma.
Só uma ressalva: se o admirador conhece pouco ou nada de música chamada erudita, tudo bem vá em frente. As composições nietzschianas vão lhe tocar a sensibilidade tanto quanto a obra de Bach. Se ele conhece bastante o pensamento do radical filósofo e um pouco de música, ainda poderá se deleitar com suas peças para canto e piano.
Se conhece pouco ou nada do filósofo e bastante de música, descobrirá talvez o calcanhar-de-aquiles de Nietzsche.
Digamos que me classifico nesta última categoria. Li o bastante de Nietzsche para reconhecer a importância do filósofo e, ao mesmo tempo, concluir que trilho um caminho não apontado por ele, ainda que, de quando em vez, me surpreenda nietzschiando por aí. Por outro lado, fui criado em ambiente musical. Desde criança, cultivo os “clássicos” e me sinto em condições de aquilatar o valor da obra do pensador alemão. Ao encontrar o disco, acompanhado de uma advertência quanto à sua restrita tiragem e a sua vocação para se tomar raridade, não hesitei em comprá-lo. Procurando esvaziar-me de qualquer pré-conceito, coloquei o CD para rodar na minha limitada aparelhagem de som.
Antes de mais nada, chama a atenção que o filósofo, entusiasta da obra de Wagner, insira-se na tradição alemã mais do que seu mestre. Os estudiosos de história da música sabem que Wagner levou o romantismo aos seus limites e chegou mesmo a romper com a linhagem constituída por Bach, Haydn, Mozart, Beethoven e Brahms.
Às criticas de Wagner a Brahms, este apenas respondia: “Admiro-lhe os Mestres Cantores e sou averso a polêmicas.” A Alemanha de Wagner é uma invenção dele, como, de resto, a de Beethoven, Schubert, Schumann e Brahms, também não deixa de ser invenção. Só que a de Wagner é mais invenção que a dos outros compositores porque solitária. Parece que Nietzsche não quis esta solidão e foi buscar a companhia de Schubert, Brahms e Hugo Wolf, compondo mais ao modo destes do que na linguagem dramática e grandiloquente de Wagner.
Em segundo lugar, que me desculpem seus admiradores, mas Nietzsche, como compositor, foi um grande filósofo e, como filósofo, foi um compositor sofrível. Do pensador que valorizava sobremaneira a estética, suas incursões pelo mundo da música guardam apenas um valor histórico ou de curiosidade. Se ele não tivesse escrito “Assim falava Zaratustra”, “A gaia ciência”, “A genealogia da moral”, “Além do bem e do mal” e “O nascimento da tragédia”, limitando-se à música, muito provavelmente seu nome teria caído no esquecimento. Ou estarei sendo muito severo? Que os apreciadores do filósofo procurem ouvir este disco ou procura-las em alguma plataforma e chegar às suas próprias conclusões.
É bem conhecido o fascínio que o polémico filósofo alemão Friedrich Nietzsche nutria pelas artes e, mais particularmente, pela música. Não é preciso ser um especialista para saber de sua admiração pela música de Wagner e da amizade que, por bom tempo, uniram os dois espíritos germânicos. No entanto, poucos estudiosos de filosofia, e mesmo da obra de Nietzsche, sabem que ele ensaiou algumas composições musicais. Os que sabem, geralmente desconhecem tais composições.
Esta lacuna pode foi suprida com o disco compacto da Philips alemã n° 426 863-2, contendo 15 canções (“lieder”), acompanhadas por piano, um melodrama recitativo para voz e piano e duas peças para piano a quatro mãos. Os apreciadores do pensador já conheciam o livro “Nietzsche e a música”, de Rosa Maria Dias (Rio de Janeiro: Imago, 1994). Agora, podem conhecer a música de Nietzsche. Quem já abandonou a aparelhagem de som e o CD como tecnologia obsoleta, poderá ouvir as composições de Nietzsche pelo Youtube ou outra plataforma.
Só uma ressalva: se o admirador conhece pouco ou nada de música chamada erudita, tudo bem vá em frente. As composições nietzschianas vão lhe tocar a sensibilidade tanto quanto a obra de Bach. Se ele conhece bastante o pensamento do radical filósofo e um pouco de música, ainda poderá se deleitar com suas peças para canto e piano.
Se conhece pouco ou nada do filósofo e bastante de música, descobrirá talvez o calcanhar-de-aquiles de Nietzsche.
Digamos que me classifico nesta última categoria. Li o bastante de Nietzsche para reconhecer a importância do filósofo e, ao mesmo tempo, concluir que trilho um caminho não apontado por ele, ainda que, de quando em vez, me surpreenda nietzschiando por aí. Por outro lado, fui criado em ambiente musical. Desde criança, cultivo os “clássicos” e me sinto em condições de aquilatar o valor da obra do pensador alemão. Ao encontrar o disco, acompanhado de uma advertência quanto à sua restrita tiragem e a sua vocação para se tomar raridade, não hesitei em comprá-lo. Procurando esvaziar-me de qualquer pré-conceito, coloquei o CD para rodar na minha limitada aparelhagem de som.
Antes de mais nada, chama a atenção que o filósofo, entusiasta da obra de Wagner, insira-se na tradição alemã mais do que seu mestre. Os estudiosos de história da música sabem que Wagner levou o romantismo aos seus limites e chegou mesmo a romper com a linhagem constituída por Bach, Haydn, Mozart, Beethoven e Brahms.
Às criticas de Wagner a Brahms, este apenas respondia: “Admiro-lhe os Mestres Cantores e sou averso a polêmicas.” A Alemanha de Wagner é uma invenção dele, como, de resto, a de Beethoven, Schubert, Schumann e Brahms, também não deixa de ser invenção. Só que a de Wagner é mais invenção que a dos outros compositores porque solitária. Parece que Nietzsche não quis esta solidão e foi buscar a companhia de Schubert, Brahms e Hugo Wolf, compondo mais ao modo destes do que na linguagem dramática e grandiloquente de Wagner.
Em segundo lugar, que me desculpem seus admiradores, mas Nietzsche, como compositor, foi um grande filósofo e, como filósofo, foi um compositor sofrível. Do pensador que valorizava sobremaneira a estética, suas incursões pelo mundo da música guardam apenas um valor histórico ou de curiosidade. Se ele não tivesse escrito “Assim falava Zaratustra”, “A gaia ciência”, “A genealogia da moral”, “Além do bem e do mal” e “O nascimento da tragédia”, limitando-se à música, muito provavelmente seu nome teria caído no esquecimento. Ou estarei sendo muito severo? Que os apreciadores do filósofo procurem ouvir este disco ou procura-las em alguma plataforma e chegar às suas próprias conclusões.