Felipe Fernandes - Além do fim do mundo
*Felipe Fernandes 25/06/2025 07:29 - Atualizado em 25/06/2025 07:28
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Filme: Extermínio: A evolução - Na tradição moderna, o zumbi, inspirado pelo vodu haitiano e imortalizado nos cinemas pelos filmes de George Romero, era trabalhado como uma metáfora da alienação social, do consumismo e da perda de identidade. Lançado em 2002, Extermínio foi um filme que reformulou esse conceito de filme de zumbi.

Se antes eles eram mortos-vivos lentos, agora eles eram instáveis e velozes. Não são mortos que retornam, mas corpos vivos, famintos, sem personalidade e tomados por uma fúria incontrolável. É uma representação da ansiedade do mundo pós-moderno. É a estética da crise constante, que comunica a urgência, a pobreza de recursos e o fim da civilização do espetáculo.

Passados 32 anos e uma continuação, o diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland retornam para contar o que aconteceu após 28 anos, dando início ao que promete ser uma trilogia sobre esse universo de zumbis, morte, sobrevivência e acreditem, evolução.

O filme parte de uma nova história, que mostra uma sociedade de sobreviventes que vivem com poucos recursos, isolados em uma ilha. Passados tantos anos, essa comunidade construiu suas próprias tradições e uma delas faz com que jovens tenham sua primeira experiência no continente, em uma espécie de rito de passagem para a vida adulta. É nesse ponto que a trama começa, com o jovem Spike (Alfie Williams) tendo sua primeira incursão no continente junto a seu pai Jamie (Aaron Taylor-Johnson), lidando com sua primeira caçada contra os zumbis.

Convenhamos, essa tradição não é necessariamente algo novo. Esse rito do menino que precisa ir à guerra para se provar homem, e ser exaltado por isso, é um aspecto da masculinidade exacerbada por um mundo violento, que nem mesmo o fim do mundo conseguiu erradicar. Spike é reverenciado antes mesmo de sua partida.

O jovem vive uma dicotomia dentro de casa. Seu pai é o guerreiro, cidadão modelo, que quer construir para o filho um caminho igual ao seu. Por outro lado, sua mãe doente, excluída daquele mundo, presa em seu corpo e em seu quarto, quer proteger o filho, mas com sérias dificuldades de discernir sua realidade. Isla (Jodie Comer) tem uma mente fragmentada, é um elo perdido entre o mundo que existiu e o atual, não por acaso ela tem esse nome, mas não como representação da ilha em que vivem, mas sim da possibilidade de vida fora das tradições daquela comunidade.

A jornada de amadurecimento de Spike começa com o pai, mas ela ganha relevância real, quando ele liberta a mãe e juntos vão a procura de um médico, que possa curar a mãe. O amadurecimento por tradição, ganha propósito e outros contornos.

O filme trabalha sobre aspectos cíclicos, a comunidade retornou a um período quase medieval, mas a evolução mencionada no título nacional, ela vêm das criaturas. Passados 28 anos, de certa forma elas evoluíram. Se antes eram corpos raivosos, famintos, hiper estimulados, agora existe um estranho senso de coletivo, senso de família. As criaturas retornam a um estado similar ao do homem de Neandertal. São mais fortes, resistentes, andam em bando e se reproduzem.

São as criaturas as novas donas do mundo, que crescem livres, em meio a natureza. O homem conheceu o fim do mundo, da civilização. Mas a natureza seguiu em frente, enquanto o homem regride, as criaturas parecem evoluir em um novo caminho, um novo homem, são os verdadeiros herdeiros dessa realidade e a criança que nasce, é o mais puro ser de uma nova espécie. Algo que deve ser melhor trabalhado nos próximos filmes.

Essa relação cíclica também se dá com Isla. Ao se aventurar com o filho, ela parece de alguma forma melhorar de sua doença. Ainda que continue com os mesmo sintomas (aparentemente de alzheimer), ela confunde seu filho com seu pai, duas figuras que aparentemente se conectam de alguma forma e o fato dela se purificar no fogo, deixando uma menina recém nascida, reforça uma ideia simbólica de renascimento muito presente no filme de 2002.

Extermínio: A evolução é a herança de um longa muito influente, que moldou as novas regras de tudo o que os filmes de apocalipse zumbi trouxeram dali em diante. Curiosamente, é justamente ele quem aponta um novo lado dessas questões. Não é revolucionário quanto o primeiro, mas foge da mesmice dos filmes de zumbi desse século. É como diz o título, uma evolução, que começou como um estudo sobre o fim do mundo e segue como um estudo sobre o mundo após esse fim.

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