Arthur Soffiati - Ecorregião
*Arthur Soffiati 17/05/2025 08:48 - Atualizado em 17/05/2025 08:48
Com o processo de ocidentalização econômica a cultural levado a cabo pela Europa a partir do século XV. O conceito de região foi abandonado pelas ciências sociais. No entanto, o local recriou-se no âmbito do global. O conceito de região voltou a ser discutido nos domínios das ciências sociais e naturais. Entendia-se região como parte de um Estado nacional ou o agrupamento de divisões administrativas dentro de um Estado. No Brasil, são reconhecidas as regiões norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste. As diferenças regionais existem e são percebidas no Brasil e em outros países. Até nas pequenas nações, emergem diferenças regionais. Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística usa as noções de microrregião homogênea e mesorregião. As finalidades, porém, são econômicas e administrativas.

Região é, aqui, entendida como na Geografia clássica: um espaço com características naturais identificadas facilmente pelos sentidos, conforme a concebeu o geógrafo Vidal de La Blache. Observe-se que o marxismo diluiu a noção de região, como se ela fosse uma ilusão ou uma construção do capitalismo. Nesta segunda perspectiva, a globalização teria diluído o regional. Para avançar-se em direção a uma revolução socialista cabia primeiro o domínio das relações capitalistas em todo o mundo. As contradições da economia de mercado permitiriam uma revolução proletária.

Entretanto, globalização capitalista recria o regional. No ambiento de um mundo unificado pela economia de mercado, o antigo regional não desaparece de todo, ao mesmo tempo que a região assume nova fisionomia. Os cientistas naturais continuam a reconhecer regiões geobiológicas, enquanto que os cientistas naturais retornam ao conceito de região, evitando enclausurar-se no regional e no global. A região, agora, é reconhecida em suas múltiplas e complexas relações com o global.

Isto não significa considerar a região apenas como resultado de uma estrutura econômica nem apenas como produto de representações coletivas, como propôs Bourdieu. Pelo ângulo contemporâneo, a região tem por base, ao mesmo tempo, o natural, o econômico, o político e o simbólico. No contexto da globalização, novamente volta-se a discutir a questão das identidades culturais, considerando-se a recriação ou a atualização delas dentro de um plano econômico global. Os geógrafos que retomam o conceito de região para fins teórico-metodológicos procuram identificá-la com o conceito de território, sustentando que ela não é uma entidade passiva. Assim como se produz a região historicamente, ela produz, parcialmente, a sociedade que a produziu. Trabalham nesta linha, com as diferenças normais da produção acadêmica, Abramovay, Roberto Lobato Corrêa, Sandra Lencioni, entre outros.

Por outro lado, as chamadas ciências da natureza (que também são humanas), notadamente a ecologia, valem-se, cada vez mais, do conceito de ecorregião. Embora não exista consenso entre os especialistas, uma ecorregião pode ser entendida como a reunião de ecossistemas relativamente homogêneos no interior de um contexto distinto de outras ecorregiões. Pode-se concluir que, para os ecólogos, a ecorregião está acima de um ecossistema e abaixo de um bioma. Defino ecossistema como um sistema auto-organizado e auto-organizável constituído de elementos abióticos e bióticos interagentes em circuitos recursivos que lhes conferem unidade e identidade estruturais e, ao mesmo tempo, equilíbrio dinâmico em ritmos distintos, tais como homeostasia, sucessão lenta e mudanças bruscas.

Fiquemos com o entendimento de que um ecossistema se insere num complexo maior denominado bioma, que pode ser definido como conjunto orgânico de ecossistemas aparentados, formando uma supraunidade e, ao mesmo tempo, interferindo nas unidades formadoras. Assim, uma ecorregião é formada por um mosaico de ecossistemas integrantes de um bioma.

No campo das ciências da natureza, a discussão de ecorregião vem sendo tratada mais por pesquisadores estrangeiros que brasileiros. Entre eles, destacam-se os nomes de Bailay, Clarke, Brow, Lomolino, Moore e Dinnerstein e outros mais. No Brasil, a discussão ainda está atrasada. Aliás, a divisão do Brasil em ecorregiões pela WWF não é convincente.

O curioso é observar que os cientistas sociais, em suas reflexões sobre região, ignoram completamente os cientistas da natureza em seu esforço de pensar e aplicar o conceito de ecorregião. Para o historiador ambiental, os dois grupos trazem contribuições importantes. Por ora, fiquemos com as seguintes premissas: 1- a discussão sobre região está na pauta atual dos cientistas sociais; 2- no conceito recente de região, busca-se reunir o natural, o econômico, o político e o cultural; 3- a região é produzida socialmente, mas também produz o sociocultural; 4- uma ecorregião se constitui de ecossistemas distintos, mas muito próximos.

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